domingo, 11 de abril de 2010

O Filho Pródigo


“Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da escravidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”, Rm 8.21.
Introdução
A Parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-32) mostra esse regaste glorioso do homem por Deus. O jovem tornou-se um perdido, ímpio, mas foi novamente resgatado pela Graça divina, na figura do seu pai, que o recebe novamente.
Essa parábola vem logo após a da Dracma Perdida, e figura entre outras parábolas de Jesus, denominadas “Achados e Perdidos”.
No caso da Dracma, era uma moeda grega com valor equivalente a uma diária (um dia de um trabalhador). Mas no caso em questão, o seu valor excedia essa quantia financeira. O valor sentimental daquela moeda fez com que a mulher se esforçasse ao máximo para achá-la novamente.
Na verdade, a mulher possuía 10 moedas. Comentadores dizem que ela fazia parte de um dote pago pelo contrato de casamento e que a mulher deveria apresenta-la, junto das outras, quando o noivo voltasse.
Para preservar as moedas e também dar forma pública ao contrato, até por questões de honra, a mulher deveria usar as moedas em uma tiara, como forma de expor seu compromisso com o noivo, que poderia chegar a qualquer momento.
Então a mulher se apavora e procura incessantemente a moeda. Varre toda a casa até que consegue encontra-la. Como seus vizinhos participavam de sua angústia, assim que encontrou a moeda, de tanta alegria, a mulher avisou a todos e fez uma grande festa.
Decisão precipitada
Já o filho pródigo era um dos dois filhos e o mais novo. Ele teria direito a um terço da riqueza do pai, enquanto seu irmão – o primogênito – teria direito ao dobro, justamente por seu o primeiro filho. Mas a divisão dos bens só poderia ser efetivada após a morte do pai.
Contudo, o garoto quis receber sua parte da fazenda antes. Sempre que a pessoa tomasse seu quinhão ou parte dele, antecipadamente, submetia-se ao desconto de determinado percentual.
Mas o pai resolve atender ao garoto. Ele pega os valores da fazenda, transforma em dinheiro. Sua reivindicação diz respeito aos bens, que no original é bios, com o significado de meio de vida, sustento, subsistência.
O filho quer experimentar os prazeres da vida. A palavra prazer tem em sua etimologia o significado de satisfação sexual. 
Também descobrimos que no original “gastar os seus bens” tem o significado de “espalhar em muitas direções”. Quanto a isso a Bíblia diz que “quem comigo não ajunta, espalha”.
Primeiras conseqüências
Depois de gastar todo o dinheiro de sua parte da fazenda do pai, o rapaz passa a sofrer os efeitos de uma grande fome, que assola o local distante de sua casa, onde agora vive. Mais ou menos o mesmo que ocorrera no tempo de José, quando houve também uma grande fome em Canaã.
Sob os efeitos de seus atos impensados, agora sem dinheiro, o rapaz começa a sofrer a dureza da fome, que o assola e o obriga a sujeitar-se ao trabalho de “pastorear” porcos.
Enquanto para os egípcios era imundo pastorear ovelhas, para um judeu pastorear porcos seria a parte mais baixa da humilhação, pois a eles é imundo ter contato com porcos.
Lançar paralelo
Quando Jesus depara com o endemoniado, que continha uma legião de demônios, parece fazer alusão à opressão do Império Romano. A região era guarnecida pela 10ª. Legião, composta de 6 mil soldados, com base em Damasco. Essa legião tinha como símbolo um javali (porco).
Então Jesus tenta mostrar aos judeus essa opressão, quando torna público o nome daqueles demônios – legião, pois eram muitos. Então o Senhor permite que aqueles demônios entrem nos porcos, próximos dali, e todos morrem. Além do exemplo aos judeus, a morte dos porcos causou prejuízo ao seu dono. Essa foi uma forma de recriminar aquele proprietário, que deveria pastorear ovelhas e não (os imundos) porcos.
O que Jesus talvez tenha tentado dizer que, a exemplo do homem possuído por uma legião de demônios, que quiseram possuir os porcos, que Israel estava sendo atormentado pelo Inimigo – os romanos, nação gentílica e distante de Deus, portanto impura – em função de seus pecados e distanciamento de Deus.
Plantar é facultativo, mas colher é obrigatório
O Filho Pródigo não teve escolha. Para não morrer de fome submete-se ao trabalho. Foi trabalhar justamente no manejo de porcos, um trabalho totalmente indigno aos judeus. Para eles, os porcos são imundos, conforme diz a Lei de Moisés, “O porco... imundo será”, Dt 14.8, e ainda, “Povo que me irrita, diante da minha face de contínuo, comendo carne de porco”, Is 64.3-4.
Muita fome
A fome era tamanha que o jovem sentia vontade de comer da mesma comida dada aos porcos. Obs: Bíblia não diz que ele comeu da comida dada aos porcos, como alguns arriscam, mas desejou.
A comida era composta de alfarroba, fruto da alfarrobeira, usada como forragem (alimentação do gado, de animais). Também era usada como alimentação de pessoas em extrema pobreza.
“Para a alma faminta, toda amargo é doce”, afirma Provérbios, que nesse caso cabe o emprego perfeitamente.
Hora de cair em si
Depois de perder tudo, sofrer muito com a miséria, perder a honra e tornar-se impuro pelo manuseio de porcos, o jovem sente a sua falha: “Pequei contra o céu”. Essa expressão faz menção ao seu pecado contra Deus. O pouco de temor que ainda restava em sua alma, devolve-lhe a esperança de ser resgatado pelo Pai.
A Bíblia diz que “Caindo em si” ele teve momento de lucidez para traçar um plano de volta à casa de seu pai: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai”.
Com a mente fixa à volta e consciente de que não seria mais digno de ser tratado como filho e o firma desejo de tornar-se ao menos um simples servo, na propriedade de seu pai, o jovem põe em prática seu plano, “E, levantando-se, foi para o seu pai”. 
Ensaio do discurso
O jovem preparou um discurso para conseguir, ao menos, a sua volta ao lar. – Vou pedir ao meu pai para ser como um dos seus servos. Sei que não sou digno de ser honrado como filho, mas se, ao menos, ele me aceitar em casa já está bom demais. Não preciso ter regalias, só quero o emprego e que ele me receba... 
Sem ressentimento
Seu pai, nem mesmo o deixou começar o discurso. Estava feliz o bastante, em função da volta do filho, que logo foi ordenando aos servos que preparassem uma grande festa. 
Alegria
Quando estava próximo à sua casa, de longe avistou o pai que já o esperava, tocado pelo amor e compaixão. O pai correu ao seu encontro e passou a beijá-lo: “... lançou-lhe ao seu pescoço, e o beijou” (v20). Essa expressão significa “beijar ardentemente”. 
Rotina
Em geral criamos rotina em nossa vida, em especial na espiritual, o que nos prejudica muito. É preciso mudar os caminhos naturais de vez em quando, para experimentar a visão de ângulos diferentes e não viver sempre na mesmice. Precisamos de coisas novas, de renovação, para que a Bíblia se cumpra em nós com a efetiva vivência “em novidade de vida”.
O filho pródigo talvez tenha saído de casa em função de rotina. Quando ela se instala na vida de um homem a existência perde o seu sentido. É preciso mudar de lugar, experimentar coisas novas...
Uma experiência marcante e muito triste ocorreu na vida de um homem, que sempre fazia seus deveres conforme antiga rotina. Acordava pela manhã, pegava seus filhos e a esposa os levava consigo no carro da família. Deixava o filho mais velho na escola, o mais novo na creche e, por fim, a esposa no trabalho. Essa era a sua rotina. Mas um certo dia, a esposa acordou tarde e, atrasada para o trabalho, foi deixada pouco depois de o menino mais velho ficar na escola. Conclusão: como ela era a última a ser deixada, dentro da rotina criada há tempo, o homem foi para o seu trabalho, parou no estacionamento da empresa, fechou o carro e foi trabalhar. Cinco horas depois, lembrou do filho de 2 anos que não havia deixado na creche. Mas era tarde, o menino estava morto no carro fechado, quente e sem oxigênio. Isso ocorreu em abril de 2006.
A rotina é perigosa especialmente na vida do crente. Nós precisamos de sinais, milagres na nossa vida, pois a Bíblia diz que se “não haver sinais o povo se corrompe”. Precisamos experimentar mudança no foco de nossa oração ou então ela se transformará em reza, com repetição das mesmas coisas todos os dias. Precisamos de experiências novas para a renovação.
Fugir da rotina de pecado
Quando o jovem intentou sair da rotina, tomou a iniciativa e tudo deu certo. Seu pai, muito feliz com a sua volta, preparou uma grande festa e ordenou que o rapaz fosse vestido – pois os que venceram receberão uma veste branca (Ap 3.5), recebesse o anel – que representava o domínio de todos os bens do pai – e ainda pediu que o calçasse, pois somente os escravos viviam descalços. Essa foi a prova final de que o moço estava sendo recebido como filho e não como servo.
“Porque éreis como ovelhas desgarradas, mas, agora, tendes voltado ao Pastor e Bispo da vossa alma”, 1Pd 2.25.
Oposição – última prova
A homenagem causa indignação ao irmão mais velho. Ela passou a reclamar da pompa oferecida ao irmão, que havia saído de casa e gastado toda a sua riqueza com o mundo. Agora, de volta, estava sendo homenageado pelo pai. Ele que permanecera todo o tempo ao lado do pai, jamais recebera honra semelhante. Essa ação é típica dos fariseus e indica atitude de hipocrisia.
Mas o pai insistia na comemoração:
– “Esse meu filho estava perdido e foi achado; estava morto e reviveu!”
É assim que ocorre na vida daqueles que reconhecem suas falhas, mas saem em busca a vitória.
Alegria e seus resultados
A alegria ocasionada pela volta do filho, que estava morto, contrapõe a tristeza da morte, que o Inimigo oferece. Alegria tipifica vida. Ela ocasiona bem-estar pela produção do hormônio denominado endorfina. Com ação semelhante a de antibióticos e analgésicos, a endorfina provoca a destruição de células doentias. O nosso metabolismo controla a fabricação desse hormônio de acordo com as expectativas de cada um. Se nos mantemos alegres, com boas expectativas e esperança, o metabolismo fabricará maior quantidade de endorfina, o que ocasionará a sensação de bem-estar. Por isso a Palavra exorta: “Alegrai-vos!”
A nossa alegria deve ser constante. Ela se efetiva quando a obra do Senhor é realizada, seja em um milagre de cura, mas principalmente no milagre da Salvação.

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